09 agosto 2010

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Sobre o tempo



Sinto-me tão vazia, tão só, sinto falta de algo que eu nem sei muito bem o que é. Talvez esteja sentindo falta de algo que nunca possuí. Talvez seja o domingo, as tardes de domingo são sempre tão monótonas e ocas.

            Sempre passo os domingos no sítio, ou na casa da minha madrinha ou na casa da minha avó. Não é assim tão ruim, a casa está sempre cheia de gente e não raro acabo por me divertir bastante.         Vivo cercada de familiares, tias, tios, primas e primos... Mas confesso que também me sinto estranha entre todas estas pessoas, como se de algum modo não pertencesse àquele lugar.

            Hoje durante a tarde fiquei sentada no banco da varanda, minhas primas, afilhada também estavam comigo. Meu avô resolveu nos mostrar fotos antigas, bilhetes que escrevíamos quando pequenos. É incrível ficar ali constatando pelo amarelo das fotografias e cartões que o tempo passou, como sempre, que as pessoas também passaram com o tempo e mudaram com ele, inevitavelmente.

            Na volta para casa fui tomada de um sentimento inexplicável de ausência. Estava frio e chovia, fixei meu olhar nas gotas de chuva que deslizavam pelo vidro da janela do carro, que avançava devagar pela estradinha de terra esburacada. Parei para observar a tarde cinza e fria e de repente eu já não era mera observadora, eu era a própria tarde úmida e chuvosa, fria, eu era o anoitecer daquela tarde. Ao meu lado estavam minhas duas primas, a mais velha embalava o sono da mais nova... e de repente entendi porque estava sendo a própria tarde triste. O sentimento era de ausência, solidão. Olhei para o horizonte embaçado e senti-me tão sozinha diante de um mundo tão assustadoramente grande.


            Voltei às fotografias amareladas, liguei os fatos. Isso aqui é sobre o tempo, não é? Tudo o que escrevo é sobre o tempo que vai passando sorrateiro, o tempo que não perdoa nem beneficia a ninguém, o tempo e sua justa injustiça. E eu aqui? Por que não há ninguém que me dê a mão? Por que não há ninguém que me conforte? Talvez seja porque eu tenha me fechado dentro do meu próprio mundo, fechei-me e já não sei mais como sair deste lugar abafado e claustrofóbico... E meus olhos então imitaram a chuva que além de lá fora, também chovia sobre mim, em mim, dentro de mim. 


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"Quero desesperadamente ser uma sacudidora de palavras para o mundo"
- Markus Zusak