Sinto-me tão vazia, tão só, sinto falta de algo que eu nem sei
muito bem o que é. Talvez esteja sentindo falta de algo que nunca possuí. Talvez
seja o domingo, as tardes de domingo são sempre tão monótonas e ocas.
Sempre passo os
domingos no sítio, ou na casa da minha madrinha ou na casa da minha avó. Não é
assim tão ruim, a casa está sempre cheia de gente e não raro acabo por me
divertir bastante. Vivo cercada de
familiares, tias, tios, primas e primos... Mas confesso que também me sinto
estranha entre todas estas pessoas, como se de algum modo não pertencesse àquele
lugar.
Hoje durante a
tarde fiquei sentada no banco da varanda, minhas primas, afilhada também
estavam comigo. Meu avô resolveu nos mostrar fotos antigas, bilhetes que
escrevíamos quando pequenos. É incrível ficar ali constatando pelo amarelo das
fotografias e cartões que o tempo passou, como sempre, que as pessoas também
passaram com o tempo e mudaram com ele, inevitavelmente.
Na volta para
casa fui tomada de um sentimento inexplicável de ausência. Estava frio e
chovia, fixei meu olhar nas gotas de chuva que deslizavam pelo vidro da janela
do carro, que avançava devagar pela estradinha de terra esburacada. Parei para
observar a tarde cinza e fria e de repente eu já não era mera observadora, eu
era a própria tarde úmida e chuvosa, fria, eu era o anoitecer daquela tarde. Ao
meu lado estavam minhas duas primas, a mais velha embalava o sono da mais
nova... e de repente entendi porque estava sendo a própria tarde triste. O
sentimento era de ausência, solidão. Olhei para o horizonte embaçado e senti-me
tão sozinha diante de um mundo tão assustadoramente grande.
Voltei às
fotografias amareladas, liguei os fatos. Isso aqui é sobre o tempo, não é? Tudo
o que escrevo é sobre o tempo que vai passando sorrateiro, o tempo que não
perdoa nem beneficia a ninguém, o tempo e sua justa injustiça. E eu aqui? Por
que não há ninguém que me dê a mão? Por que não há ninguém que me conforte?
Talvez seja porque eu tenha me fechado dentro do meu próprio mundo, fechei-me e
já não sei mais como sair deste lugar abafado e claustrofóbico... E meus olhos
então imitaram a chuva que além de lá fora, também chovia sobre mim, em mim,
dentro de mim.
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"Quero desesperadamente ser uma sacudidora de palavras para o mundo"
- Markus Zusak